Vou até a janela antiga de onde não vejo mais o jornaleiro do outro lado da rua
Não sei há quanto tempo ele já não está mais ali
(Há quanto tempo essa janela anda cerrada)
pra aonde teria levado sua sombra silenciosa?
Talvez tenha saído à procura dalguma ausência mais antiga
(seria o sapateiro Luiz comunista ironicamente manco da esquerda?)
ou mais longe ainda: atrás do condutor de bondes que nem mesmo eu conheci, mas que me provoca saudade quase melancólica?
Quem sabe apenas se dissolveu na ambiguidade desses tempos
(ser de papel e tipografia frágil que é)
Tempos de notícias
sem alma, de matérias sem músculo
de personagens ruminados na vertigem dos acasos cotidianos
Talvez simplesmente tenha seguido ao encontro do destino igual dos jornaleiros de hoje
e das notícias sempre:
o aterro sanatório definitivo
e irrevogável da história
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