REFAZENDO A MANHÃ*
o dia mal acorda e já promete pouco. muito pouco
onde depositar meu sono, se de ontem mal sobrou corpo ?
pergunto sonolento
ao relógio prestes a explodir:
as pequenas urgências humanas desimportam?
o beijo o sexo o ócio?
não nada importa me responde
o monocórdico alarme
então: levanta!
mesmo que não acorde,
apenas levanta, ó grande paquiderme
beijar as filhas, a companheira, o cachorro?
nada disso importa?
não, apenas levanta e caminha,
conduz o que te resta de sombra
rumo ao dia com essa consciência de névoa
e se vá com essas pernas de garça nesse corpo de elefante amnésico.
Mas hoje resolvi ficar surdo aos seu desmandos
e me reviro na cama incomodada de mim com a paz de espírito de um revolucionário em repouso inquieto:
não demora, ganho as ruas atento
radicalmente atento no meu sonho
*Dedicado ao poeta Sérgio Luís dos Pinto
Um comentário:
como sempre, lindo
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