Este pretende ser um espaço de divulgação de coisas que venho produzindo ao longo dos anos. Sem pressa. Afinal, "de preguiça em preguiça, também se enche boa linguiça".


segunda-feira, 8 de maio de 2023

outra infância

outra infância

minha mãe passou a acordar as galinhas, 

calçava os pés de nuvens para não acordar as crianças pretinhas antes que a realidade as despertasse para a escuridão dos dias 

fazia o café vindo de longe, com certeza plantado por mãos fortes e madrugadeiras como as suas,

(minha mãe, tão negra e tão mulher, que depois voltaria pra casa distante e sem reboco pra cuidar dos filhos, do cachorro

e das galinhas que, a essa altura, já dormiam)

e lá ia ela madrugada a dentro matar seus muitos leões diários:

naquele tempo não havia os dragões imaginários de hoje,

somente minha mãe, os leões e umas poucas, magras galinhas 

e toda uma pobre infância.

2 comentários:

Deborah Carla disse...

O poema traduz a sensibilidade do autor com relação às suas lembranças e registros da sua infância.

Sergio Luis Pinto disse...

o poema faz grudar nos olhos o tempo que insiste ficar