outra infância
minha mãe passou a acordar as galinhas,
calçava os pés de nuvens para não acordar as crianças pretinhas antes que a realidade as despertasse para a escuridão dos dias
fazia o café vindo de longe, com certeza plantado por mãos fortes e madrugadeiras como as suas,
(minha mãe, tão negra e tão mulher, que depois voltaria pra casa distante e sem reboco pra cuidar dos filhos, do cachorro
e das galinhas que, a essa altura, já dormiam)
e lá ia ela madrugada a dentro matar seus muitos leões diários:
naquele tempo não havia os dragões imaginários de hoje,
somente minha mãe, os leões e umas poucas, magras galinhas
e toda uma pobre infância.
2 comentários:
O poema traduz a sensibilidade do autor com relação às suas lembranças e registros da sua infância.
o poema faz grudar nos olhos o tempo que insiste ficar
Postar um comentário